PARA RUY CINATTI
AUSENTE EM TIMOR E ALGURES
APÓS CINCO ANOS SEM NOTÍCIAS
Aquele que partiu
precedendo os próprios passos como um jovem morto
deixou-nos a esperança.
Ele não ficou para connosco
destruir com amargas mãos seu próprio rosto.
Intacta é a sua ausência
como a estátua de um deus
poupada pelos invasores de uma cidade em ruínas.
Ele não ficou para assistir
à morte da verdade e à vitória do tempo.
Que ao longe,
na mais longínqua praia,
onde só haja espuma, sal e vento,
ele se perca, tendo-se cumprido
segundo a lei do seu próprio pensamento.
E que ninguém repita o seu nome proibido.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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