11.10.19

Rogelio Guedea (Sol de outra herança)





SOL DE OTRA HEREDAD



estoy en la entrada del centro comercial
al que solíamos venir los domingos
mientras escribo este poema sin destino,
este poema que cae de mi mano como las hojas
de los árboles abatidos por la lluvia,
miro entrar y salir a gente que no conozco,
es gente del país extranjero, tan desconocidos que entran
o salen, cada cual en su mundo de ipods y emepetrés,
y resulta que nadie se da cuenta que estoy
pensando en ti, en nuestros hijos que disfrutaban la sección
de juguetes o películas infantiles, mientras tú aprovechabas
para perderte entre blusas azules o vestidos de verano,
y yo – nunca lo supiste porque procuraba que nadie lo notara –
los observaba desde un rincón o esquina, una rendija
entre los anaqueles y el cielo, y me llenaba con la dicha de verlos felices,
ajenos a mis preocupaciones de empleado universitario,
o ciudadano de a pie, o, acaso, y tan solo, hombre triste,
uno más entre los hombres tristes que alguna vez, como ahora,
esperan verte salir o entrar al centro comercial
como lo solíamos hacer los domingos de cualquiera día,
y entonces, sin que te des cuenta, seguirte hasta la sección
de damas, y ahí contemplar la absoluta redondez
de tu blancura, todo eso sin adelantar mi mano para tocarte
un hombro, tu cuello o pelo, y luego decirte
–decirte arteramente– todo eso que mis
noches empiezan a contarme de ti.


Rogelio Guedea




estou à entrada do centro comercial
onde costumávamos vir ao domingo
enquanto escrevo este poema sem destino,
este poema que me cai da mão como as folhas
das árvores abatidas pela chuva,
observo pessoas que não conheço a entrar e a sair,
são pessoas do estrangeiro, desconhecidos que entram
ou saem, cada qual no seu mundo de Ipods e MP3,
e ninguém nota que eu estou
a pensar em ti, nos nossos filhos que entravam
na secção de brinquedos ou filmes infantis,
enquanto tu aproveitavas
para te perder no meio de blusas azuis ou vestidos de verão,
e eu – sem que soubesses, porque procurava escondê-lo –
os observava de um canto ou esquina, uma fresta
entra as estantes e o céu, e consolava-me
de os ver felizes,
alheios às minhas preocupações de funcionário,
de vulgar cidadão, ou talvez tão só de homem triste,
um mais entre outros homens tristes que às vezes, como agora,
esperam ver-te saindo ou entrando no centro comercial
como nós costumávamos ao domingo,
e então, sem dares conta, seguir-te até à secção
de mulher, contemplando ali o redondo absoluto
da tua brancura, isto sem estender a mão para te tocar
no ombro, pescoço, cabelo, e depois dizer-te
– dizer-te, matreiro – aquilo tudo que as noites
começam a contar-me de ti.

(Trad. A.M.)

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