8.5.19

Juan Manuel Villalba (Canção para depois da festa)





CANÇÃO PARA DEPOIS DA FESTA



Os copos homicidas que apagam as lembranças
é que permitiram chegares aqui,
junto a esse corpo, neste quarto,
perdido na cidade onde vives.
Quem foste tu até chegar aqui?
Quem és quando não te lembras a ti mesmo?
És talvez esse outro que todo mundo esconde,
o ‘outro’, tão insigne, de que falam todos.
Talvez esse outro lembre minimamente o outro,
borracho e confundido num mundo paralelo.
Talvez recorde apenas um sombra do seu eu.
Essa aí, que não conheces, observa como pensas
nesta cama estranha, dentro de um quarto absurdo.
Essa, que não conheces, olha para ti a pensar
que não recorda nada daquela que te seduziu.
Os copos traiçoeiros que moem as lembranças
convidam a uma ronda de olvido partilhado.
Os outros, os direitos, já se disseram os nomes,
olham-se na cara, estão já a fazer planos.


Juan Manuel Villalba

(Trad. A.M.)

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