18.11.17

Rafael Cadenas (Poética)





POÉTICA



Que cada palabra lleve lo que dice.
Que sea como el temblor que la sostiene.
Que se mantenga como un latido.

No he de proferir adornada falsedad ni poner tinta dudosa ni añadir
brillos a lo que es.
Esto me obliga a oírme. Pero estamos aquí para decir verdad.
Seamos reales.
Quiero exactitudes aterradoras.
Tiemblo cuando creo que me falsifico. Debo llevar en peso mis
palabras. Me poseen tanto como yo a ellas.

Si no veo bien, dime tú, tú que me conoces, mi mentira, señálame
la impostura, restriégame la estafa. Te lo agradeceré, en serio.
Enloquezco por corresponderme.
Sé mi ojo, espérame en la noche y divísame, escrútame, sacúdeme.


Rafael Cadenas




Que cada palavra tenha o que diz,
que seja como o tremor que a sustém,
que se mantenha como latejo.

Não profira composta falsidade,
nem acrescente cor duvidosa
nem dê brilho àquilo que existe.
Isto me obriga a escutar-me. Mas
estamos aqui para falar verdade.
Sejamos autênticos.
Eu quero a exactidão aterradora,
até tremo quando penso que minto.
Tenho de carregar com as minhas palavras,
que me possuem tanto como eu a elas.

Se eu não vir bem, tu que me conheces,
diz-me da minha mentira, indica-me
a imposturice, esfrega-me o engano.
A sério que agradeço.
Quem me dera amar e ser amado.
Sê tu a minha vista, espera-me no escuro,
divisa-me, escogita-me, abana-me.


(Trad. A.M.)

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