27.5.17

Gonzalo Fragui (De como os antigos amores)





DE CÓMO LOS ANTIGUOS AMORES HACEN PLANES PARA MUDARSE



Quienes más sufren
cuando un nuevo amor nos abandona
son los antiguos amores

Ellas nos ven llegar desde lejos
después de una larga ausencia
nos miran sospechosamente
nos olfatean

Ellas dicen
¡Ay, poeta, de qué nueva batalla vendrás!
Yo sólo les muestro mi silencio como trofeo de guerra

A pesar de sus ironías
ellas entienden
Una me indica posiciones de tai-chi para el bazo
Otra me proporciona en la boca
pequeñas porciones de un té negro como de alacranes
Otra me aplica quemaduras en plexo solar y en las manos
con un extraño cigarro chino
Otra me acuesta en su sofá y me recorre con sus cristales
Otra me pide que respire profundo, hasta acá abajo, más abajo,
y no faltará quien me ofrezca una oración o una cerveza

Poco a poco voy saliendo a flote

Entonces ellas
hacen planes para mudarse de habitación
de trabajo
de ciudad
de planeta
lo antes posible
No quisieran verme llegar de nuevo
como perro alcanzado.


Gonzalo Fragui

[Emma Gunst]




Quem mais sofre
quando um novo amor nos deixa
são os antigos amores

Vêem-nos chegar de longe
após uma longa ausência
olham-nos com suspeita
cheiram-nos

Então dizem
Ai, poeta, de que batalha virás!
E eu mostro-lhes só o meu silêncio como troféu de guerra

Elas entendem
apesar das suas ironias
Uma indica-me posições de tai-chi para o baço
Outra dá-me na boca
umas colheres de um chá negro com sabor a lacrau
Outra aplica-me queimaduras no plexo solar e nas mãos
com um estranho charuto chinês
Outra deita-me no sofá e percorre-me com as lentes
Outra diz-me que respire fundo, até cá baixo, mais abaixo,
e não faltará quem me ofereça uma oração, uma cerveja

Pouco a pouco vou vindo à tona

Então elas fazem planos para mudar de quarto
de emprego
de cidade
de planeta
quanto antes
Não estão para me ver voltar novamente
como um cachorro abandonado.


(Trad. A.M.)

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