22.1.17

João Guimarães Rosa (Só comandei)





Quem era que ia poder botar naquilo uma ordem, para um fim com vitória?
E estralou bala...
Repisei em minhas estribeiras, apertei as pernas nas espendas.
Eu tinha de comandar.
Eu estava sozinho!
Eu mesmo, mim, não guerreei.
Sou Zé Bebelo?!
Permaneci.
Eu podia tudo ver, com friezas, escorrido de todo medo.
Nem ira eu tinha.
A minha raiva já estava abalada.
E mesmo, ver, tão em embaralhado, de que é que me servia?
Conservei em punho meu revólver, mas cruzei os braços.
 Fechei os olhos.
Só com o constante poder de minhas pernas, eu ensinava a quietidão a Siruiz meu cavalo.
E tudo perpassante perpassou.
O que eu tinha, que era a minha parte, era isso: eu comandar.
Talmente eu podia lá ir, com todos me misturar, enviar por?
Não!
Só comandei.
Comandei o mundo, que desmanchando todo estavam.
Que comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem.


JOÃO GUIMARÃES ROSA
Grande Sertão: Veredas
(1956)