18.11.16

José Rentes de Carvalho (Instantes)





Manhãs de geada, névoa, quietude.
O fumo a prolongar em colinas cinzentas o negro dos chupões, ou escapando em novelos azulados por entre as telhas dos casebres.
O cheiro acre de um estábulo.
A  súbita presença de rostos, cenas corriqueiras, como se à revivência desses instantes ínfimos se cole um significado impenetrável, um mistério.
O que causará a visão insólita do sorriso de um estranho, cruzado há séculos numa rua anónima, e desde então esquecido?
Porque ressurge, tão vívida e colorida, a imagem de cestos de uvas numa vinha?
A de uma sala onde só estive momentos?
Que mecanismo me faz ouvir de novo o ladrar dum cão numa noite de Inverno? 


J. RENTES DE CARVALHO
A Amante Holandesa
(2003)

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