30.9.16

José Alberto Oliveira (Democracia)





DEMOCRACIA



Corre afogueado o rio do tempo,
que lambe mazelas e alimenta
desastres. Ainda ontem eu lia
Marx, com devoção de neófito,
fugia da polícia com a pressa 
dos esganados e jurava mudar
o mundo, mesmo que este, como
aconteceu, não consentisse. Cedi 
a exaltação dos primeiros poemas
(seria simpático se também a inépcia),
amores que, por fortuna, quase acertei
e outros, que nasceram desacertados.
Acabei vencido pela descoberta de que
sou, como em oração fúnebre,
a melhor versão do pior de mim.


JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA
Como se nada fosse
(2015)

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