20.2.16

Paulo Castilho (Pai e filha)





O que é?

Estou sem dinheiro, podias emprestar-me qualquer coisa? duas semanas sem trabalho, estou liso.

Disse-lhe que lhe emprestava tudo o que pudesse e que a palavra vergonha estava banida das nossas conversas.

Mas é a verdade, tenho vergonha, os pais é que ajudam os filhos, o contrário é uma vergonha e eu sei que tu não tens muito.

Interrompi: eu zango-me, quanto precisas?

Não sei, depende de me aparecer algum trabalho.

Disse-lhe que trazia pouco comigo, mas a casa era ali perto e tinha lá o meu dinheiro.

Atravessámos o jardim e o quarteirão seguinte: é aqui, último andar, sótão melhorado.

O meu pai olhou para cima com pouco interesse e não quis subir, era mais decente conhecer primeiro o Filipe.

Trouxe-lhe quinhentos euros e expliquei-lhe que agora tenho algum dinheiro, não é muito e não é emprego que dure, mas enquanto houver há e é dele sempre que precisar. (p. 328)


PAULO CASTILHO
O Sonho Português
(2015)

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