29.7.15

Batania (Para não se rir de mim)





PARA QUE NO SE RÍA DE MI



En diecisiete años me dio tiempo
a dedicarle muchos poemas,
pero nunca le escribí ninguno
con la palabra “aurora”.
Ya me entendéis.
Para que no se riera de mí. Para
que no me tomara por un poeta.

Decidí ocultarle
mis ojos pequeños de frío, los grados celsius
de mi tindaya, hasta qué siempres
me había clavado a ella.

Me prohibí decirle “te amo” más de tres veces al día.
Me obligué a tratarla con dureza.
Y empecé a escribirle poemas
distintos a los que había escrito.
Poemas que no parecían poemas
para una mujer que no parecía
una mujer.

Ahora que se ha ido
y bebo despacio
del agua dudosa de mi garganta,
he vuelto a escribir poemas
que parecen poemas. Poemas
de auroras y ocasos y melancolías.
Pero no voy a publicarlos.

Ya me entendéis.
Para que no se ría de mí. Para
que no me desprecie.

Para que no me tome por un poeta.


Batania

[Fragments de vida]



Em dezassete anos deu-me tempo
para dedicar-lhe muitos poemas,
mas nunca meti em nenhum
a palavra 'aurora'.
Estais a ver,
para que não se risse de mim. Para
que não me tomasse por poeta.

Decidi ocultar-lhe
os meus olhos pequenos de frio, os graus celsius
da minha ‘tindaya’, até que sempres
me tinha cravado nela.

Proibi-me dizer-lhe 'te amo' mais de três vezes ao dia.
Obriguei-me a tratá-la com dureza.
E comecei a escrever-lhe poemas
diferentes dos que já tinha escrito.
Poemas que não pareciam poemas
para uma mulher que não parecia
uma mulher.

Agora que se foi embora
e eu bebo devagar
da água duvidosa da minha garganta,
voltei a escrever poemas. Poemas
que parecem poemas,
de auroras e ocasos e melancolias.
Mas não vou publicar.

Estais a ver,
para que não se ria de mim. Para
que não me despreze.

Para que não me tome por poeta.

(Trad. A.M.)

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