12.6.15

Pedro A. González Moreno (A tempestade, amanhã)





MAÑANA, LA INTEMPERIE



Por si no amaneciera
mañana, que la casa
no parezca vacía;
que todo continúe como al borde
de suceder, no olvides
dejar llenas las copas, como si el vino fuese
una última forma de esperanza.
Y ahí, sobre el mantel, recién partido,
deja también el pan
para que haya un olor a espigas altas
o para que parezca
que hay cosas que se pueden compartir todavía.
Deja algún libro abierto en cualquier sitio,
como si fueras a volver muy pronto;
que parezca que todo se ha quedado esperándote.
Que no note la muerte cuando llegue
que en esta casa ya
no vive nadie. Deja
abierta una ventana para que entre
todo ese ruido extraño
y ajeno de la calle.
Que en tu muerte no haya
esa misma intemperie que hubo siempre en tu vida.


Guarda en algún espejo
tu mirada y un poco de esa lumbre
que ya no habrá en tus ojos
mañana; y guarda dentro de un cuaderno
el ascua viva de tu tacto. Deja
encendida una lámpara,
por si acaso la noche
durara demasiado.
Déjalo todo como si esta noche
no fuera a ser la última. No olvides
dejar un libro abierto en cualquier página.


Y deja tu ventana bien abierta
para que así mañana la luz te reconozca,
aunque ya sólo seas
un cuerpo roto, un cuerpo sin memoria y con frío;
para que así mañana (si amanece)
siga entrando por ella -aunque tú no lo oigas-
todo ese ruido extraño
y ajeno de la vida.

Pedro A. González Moreno

[Sinfonia de las palabras]



Não pareça a casa vazia,
caso não amanheça amanhã;
que tudo continue à beira
de acontecer, deixa os copos cheios,
não esqueças, como se o vinho fora
a última forma da esperança.
E deixa também o pão, partido,
na toalha,
para haver um cheiro de espigas altas
ou parecer ao menos que há coisas
que ainda se podem partilhar.
Deixa um livro aberto em qualquer sítio
como se fosses voltar muito em breve;
e que tudo pareça que ficou à tua espera.
Não note a morte ao chegar
que já não vive ninguém na casa.
Deixa aberta a janela para poder entrar
todo esse barulho estranho
e alheio da rua.
Não haja na tua morte
essa mesma intempérie
que sempre houve na tua vida.

Guarda num espelho
o teu olhar e um pouco dessa luz
que em teus olhos já não haverá
amanhã; e põe dentro dum caderno
a brasa viva do teu tacto. Deixa acesa
uma lâmpada, não vá a noite
durar demasiado.
Deixa tudo como se esta noite
não estivesse para ser a última.
Não te esqueças de deixar um livro
aberto em qualquer página.

E deixa bem aberta a janela
para a luz te conhecer amanhã,
mesmo que sejas apenas
um corpo partido, com frio e sem memória;
para que assim amanhã (caso amanheça)
entre de novo por ela – mesmo que tu não ouças –
todo esse barulho estranho
e alheio da vida.

(Trad. A.M.)

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