5.6.15

José Cardoso Pires (Opus Night-1)





Aqui nos bares do Chiado e balcões adjacentes era sabido que Opus Night, com a sua elegância de bom corte, cravo ao peito e voz sonante, tinha duas memórias distintas, uma para a noite, outra para o dia, sendo a primeira a mais certa por causa das fidelidades do vinho e a segunda a dos desastres e das corrosões por causa das borras acumuladas de véspera.

Sebastião Manuel estudara num internato jesuíta rodeado de invernos e de granito; para o norte ficavam os pais e a lavoura da família até à fronteira transmontana, para baixo era o marrocos da galderice, a Coimbra dos doutores, Terreiro do Paço e putas à solta.

Quando saiu da penumbra dos padres escolares e desembarcou em Lisboa para estudar agronomia, a luz solar entonteceu-o a um ponto tal que, pode dizer-se, nem conseguiu acertar a mão para assinar os papéis da matrícula.

Incompatibilizou-se com os reflexos, são percalços que acontecem, e, resultado, daí em diante Sebastião Manuel passou a ser só noites e tresnoites e madrugadas em canal. (p.88)



JOSÉ CARDOSO PIRES
Alexandra Alpha
(1987)

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