12.5.15

Luis Cernuda (Como ligeiro ruído)

 




COMO LEVE SONIDO



Como leve sonido:
hoja que roza un vidrio,
agua que acaricia unas guijas,
lluvia que besa una frente juvenil;

Como rápida caricia:
pie desnudo sobre el camino,
dedos que ensayan el primer amor,
sábanas tibias sobre el cuerpo solitario;

Como fugaz deseo:
seda brillante en la luz,
esbelto adolescente entrevisto,
lágrimas por ser más que un hombre;

Como esta vida que no es mía
y sin embargo es la mía,
como este afán sin nombre
que no me pertenece y sin embargo soy yo;

Como todo aquello que de cerca o de lejos
me roza, me besa, me hiere,
tu presencia está conmigo fuera y dentro,
es mi vida misma y no es mi vida,
así como una hoja y otra hoja
son la apariencia del viento que las lleva.


Luis Cernuda




Como ligeiro ruído,
uma folha roçando no vidro,
água que afaga as pedras do leito,
a chuva beijando um rosto jovem;

Como rápida carícia,
pé descalço no pó do caminho,
dedos brincando o primeiro amor,
lençóis cobrindo um corpo solitário;

Como passageiro desejo,
seda brilhante na luz,
esbelto rapaz entrevisto,
lágrimas de ser mais que um homem;

Como esta vida que minha não é
e contudo é a minha,
como este afã que não me pertence
e contudo sou eu;

Como tudo o que perto ou longe
me toca, me beija, me fere,
tua presença em mim está fora e dentro,
é a minha vida mesma e não é,
tal como uma folha e outra são
a aparência do vento que as leva.


(Trad. A.M.)

.