12.8.14

Valeria Pariso (Por isso)




POR ISSO


Tínhamos tantas solidões.
A dos domingos
antes de anoitecer,
a solidão do comboio
com as solidões cingidas,
a dos pátios
a meio do Outono
quando já não se varre
nem folhas nem flores.
Tínhamos a solidão
do quarto de hospital
depois da hora de visita,
a solidão do amor
depois dos presentes,
a dos gatos esquecidos
nas varandas,
a do dono do gato
que esqueceu o gato
que foi atrás da gata
esquecida na varanda
por uma senhora velha
que sofria de Alzheimer.
Tínhamos as solidões
mais inoportunas, mais contraditórias
as solidões mais revolucionárias
e contra-revolucionárias.
Tínhamos solidões
as mais silenciosas.

Quem pode estranhar por isso
que nos fôssemos?

Valeria Pariso



(Trad. A.M.)

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