31.8.14

Alexandre O'Neill (Seis poemas confiados/IV)





(IV)

Passam os anos a caretear…
Com ou sem sorte,
não será tempo de viver, de amar,
de resistir à morte?
Ouve amor-o-eterno e o que ele diz
a quem se dá.
Não esperes pelo tempo: sê feliz
que a felicidade é já!
E a felicidade é esse rosto eleito
por ti,
é esse palmo de ternura e o jeito
com que sorri.
E a felicidade é a melancolia
que nesse rosto existe,
quando te quer dizer que só por ele
é bom estar triste…
Passem, então, os anos a deitar-nos
línguas de fora…
Se morrermos será de nos amarmos
em cada hora!

Mais um ano de esperança? Não o queiras
se a esperança é adiar,
e vive-o como se fosse a vida inteira
se tiveres de esperar!…


Alexandre O'Neill

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