21.6.14

Pablo Neruda (Gosto, quando te calas)





POEMA 15



Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía;

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Pablo Neruda



Gosto quando te calas e ficas como ausente,
e ouves-me de muito longe e minha voz não te chega.
Como se os olhos te voassem e um beijo
por exemplo te fechasse a boca.

Como as coisas estão cheias da minh’alma
tu ergues-te das coisas, cheia da alma minha.
Borboleta de sonho, parecida com a minh’alma
e também com a palavra melancolia;

Gosto quando te calas e ficas como distante,
assim como a queixar-te, borboleta arrulhando.
E ouves-me de muito longe e minha voz não te alcança:
deixa-me só calar no meio do teu silêncio.

Deixa-me também falar com teu silêncio
claro como lâmpada, simples como anel.
Tu és como a noite, silente e estrelada,
teu silêncio de estrela, tão distante e singelo.

Gosto quando te calas e ficas como ausente,
distante e dolorosa como se estivesses morta.
Uma palavra, então, e um sorriso bastam,
e eu fico alegre, alegre por não ser verdade.


(Trad. A.M.)

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