18.6.14

Fialho de Almeida (Barjona de Freitas-2)





É um advogado de província calcado sobre todas as pelintragens da vida de boémio, acrescentadas de todas as licenças da vida de solteiro.

Duma origem plebeia - o que não é indiferente na gestação de um diplomata - toda a vida pobre, e com pequenas angústias quotidianas de cinco libras perdidas à batota, ele acusa nos mais pequenos detalhes do seu espírito e da sua figura, essas saburras ínfimas do cavador que está por baixo do outro, do homem cultivado, e a cada instante intervém para o amesquinhar, seja onde for.

Mesmo a sua figura é deplorável, com feições de cigano e sangue de mulato.

Nos cabelos corredios, chorando banha, na implantação viciosíssima dos dentes, bordados de limugens perto da raiz, na barba rala, empastada de herpes, no prognatismo da maxila inferior, avançando obtusamente com uma sensualidade rude de gorila, no feitio da barriga, gastralgizada por indigestões de comidas ordinárias, no desenho das mãos rugosas, com palmouras, dedos cheios de nós, unhas chatas, estriadas ao través como as dos pobretões descalços, no ritmo do andar, cambaio, como quem leva um frete, no parênteses das pernas, no feitio do cachaço, uma inferioridade atávica ressalta, de raça espúria, cruzamentos que aviltam o homem, e o desviam do tipo puro de que certos representantes das raças loiras parecem ser o ideal inigualável.

(29 Set. 1890)
Os Gatos


Do dito Barjona:M.Justiça, quatro vezes, Par-do-Reino, Conselheiro de Estado.Ligado à negociação diplomática emergente do Ultimato britânico e da questão do mapa-cor-de-rosa (para mal), e à abolição pioneira da pena de morte (para bem).Parlamento
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