12.2.14

Mario Benedetti (Chau número três)





CHAU NÚMERO TRES



Te dejo con tu vida
tu trabajo
tu gente
con tus puestas de sol
y tus amaneceres
sembrando tu confianza
te dejo junto al mundo
derrotando imposibles
seguro sin seguro
te dejo frente al mar
descifrándote a solas
sin mi pregunta a ciegas
sin mi respuesta rota
te dejo sin mis dudas
pobres y malheridas
sin mis inmadureces
sin mi veteranía
pero tampoco creas
a pie juntillas todo
no creas nunca creas
este falso abandono
estaré donde menos
lo esperes
por ejemplo
en un árbol añoso
de oscuros cabeceos
estaré en un lejano
horizonte sin horas
en la huella del tacto
en tu sombra y mi sombra
estaré repartido
en cuatro o cinco pibes
de esos que vos mirás
y enseguida te siguen
y ojalá pueda estar
de tu sueño en la red
esperando tus ojos
y mirándote.

Mario Benedetti



Deixo-te com tua vida
teu trabalho
tua gente
com teus pôres do sol
e teus amanheceres
semeando a confiança
deixo-te junto ao mundo
derrotando impossíveis
seguro sem seguro
deixo-te frente ao mar
decifrando-te a sós
sem minha pergunta às cegas
sem minha resposta quebrada
deixo-te sem minhas dúvidas
pobres e mal-feridas
sem minhas verduras
sem minha experiência
mas não creias tão pouco
em tudo a pés juntos
não creias nunca creias
neste falso abandono
estarei onde menos
esperares
por exemplo
numa árvore anosa
cabeceando de sono
estarei num horizonte
distante sem horas
na marca do tacto
na tua sombra e na minha
estarei repartido
em quatro ou cinco miúdos
desses que tu olhas
e a seguir te seguem
e oxalá possa estar
no teu sonho na rede
esperando o teu olhar
e a olhar-te.

(Trad. A.M.)

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