8.12.13

Manuel Silva Ramos (A linha da vida)





Atado com uma linha branca aos pés da grande mesa de madeira onde trabalhava o meu pai, eu regozijo: estou preso, mas sou uma pessoa importante para os clientes que entram na oficina.

Porém, sou também um fraco, um doente, que não se deve mexer muito, porque muito sangue pode refrondescer de novo no seu umbigo.

Dias fascinantes esses, em que o mundo turvo pelas conversas desacolchetadas e exuberantes dos fregueses se entrechocam com os meus olhos medrosos de criança.

Umas botas cheias de estrume, umas calças com caruma nas bainhas, uma camisa cheia de nódoas de vinho, um colete que cheira a pinheiros e a resina trazem-me o aroma do mundo feito de propósito para mim.


- MANUEL DA SILVA RAMOS, Pai, levanta-te, vem fazer-me um fato de canela!, 2013 (A linha da vida).

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