17.11.13

Chantal Maillard (Fez-se noite ao meio-dia)




Se hizo de noche al mediodía.
No pude respirar.
Tanto metal entre la carne,
aquel sabor a cieno
y sobre todo
el corazón oblicuo, sí, eso es,
el corazón oblicuo.
Como las tejas de un tejado,
resbalando.
El viento arriba
(había viento, sí, un viento suave).

Pero ya terminó. Una sombra
no hace la noche entera.
Volvamos cada uno a lo que nos distingue:
esa historia concreta, personal
que nos mantiene a salvo -mientras tanto.

Una sombra no hace la noche entera
-¿o sí la hace?

Chantal Maillard



Fez-se noite ao meio-dia
e eu não respirava.
Tanto metal na carne,
aquele sabor a lodo
e sobretudo
o coração oblíquo, é isso, sim,
o coração oblíquo.
Como as telhas de um telhado,
a resvalar.
O vento em cima
(havia vento, sim, um vento suave).

Mas já acabou. Uma sombra
não faz a noite toda.
Voltemos cada um ao que nos distingue,
uma história concreta, pessoal,
que nos mantém a salvo - por enquanto.

Uma sombra não faz a noite toda
- ou faz?
 
(Trad. A.M.)

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