7.9.13

Jorge M. Molinero (Carta à minha viúva)





CARTA A MI VIUDA


si lees esto, estoy muerto
-siempre quise decirlo-

dona todos mis órganos
si alguno aún vale para algo

que me incineren

soy poca cosa
seguro que mis cenizas caben dentro
de ese tubo de plástico para guardar el dinero
que causó furor en las playas de los ochenta,
con una cuerda para colgarlo a modo de
nuevo crucifijo de la verdadera religión

tengo uno con la arena de mis primeras
vacaciones en la costa del Cantábrico
vacíalo

y con mis cenizas lubricadas dentro
mastúrbate

haz verdad eso de
polvo somos y en polvo
nos convertiremos

Jorge M.Molinero

[Erosionados]



se leres esta, é porque estou morto
– sempre quis dizer isto –

doa os meus órgãos todos
se algum ainda servir para algo

que me incinerem

sou coisa pouca
decerto que as cinzas cabem
nesse tubo de plástico de guardar dinheiro
que fez furor nas praias dos anos oitenta,
com um fio para o pendurar a modos
de novo crucifixo da religião verdadeira

tenho um com areia das minhas primeiras
férias na costa do Cantábrico
esvazia-o

e com as minhas cinzas lubrificadas dentro
masturba-te

faz verdade aquilo de que
pó somos e em pó
nos tornaremos

(Trad. A.M.)

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