24.9.13

Jaime Sabines (Espero curar-me de ti-2)





Espero curar-me de ti em alguns dias,
tenho de deixar de fumar-te, de beber, de te pensar.
Pode ser,
seguindo as prescrições da moral vigente,
a receita é tempo, abstinência, solidão.

Achas bem que deixe de te querer em uma semana?
Muito não é, nem pouco, é o bastante,
numa semana podem juntar-se todas as palavras de amor
já pronunciadas na terra,
e pegar-lhes fogo.
Hei-de aquecer-te nessa fogueira de amor queimado.
E no silêncio também,
porque as melhores palavras de amor
são as de duas pessoas que não se dizem nada.

É preciso queimar também a outra linguagem
de quem ama, lateral e subversiva.
(Tu sabes como eu digo que te quero, quando digo:
"mas que calor", "dá-me água", "sabes conduzir?", "é noite já".
Ao pé de pessoas, dos teus e dos meus, eu disse-te
"já é tarde", e tu sabias que eu dizia "amo-te").

Uma semana mais para juntar o amor todo do tempo;
e dar-to,
para tu fazeres dele o que quiseres,
guardá-lo, acariciá-lo, jogá-lo no lixo.
Não presta, está certo.
Quero só uma semana para ver se entendo as coisas,
porque isto parece-se muito com estar a sair
do manicómio para entrar no panteão.


Jaime Sabines

(Trad. A.M.)

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