31.5.13

Óscar Hahn (Alfaiate)





SASTRERÍA



Me he probado la muerte como un traje
que por ahora me queda grande

Y tengo mucho miedo
de que mi cuerpo empiece a crecer
hasta alcanzar el tamaño de mi muerte

y que de pronto la ropa me quede bien:
los zapatos holgados
la camisa impecable

el traje a la medida


Óscar Hahn



Provei a morte como um fato
que para já me fica grande

E tenho muito medo
que o corpo me comece a crescer
até atingir o tamanho da minha morte

e de repente a roupa me ficar bem:
os sapatos folgados
a camisa impecável

o fato à medida


(Trad. A.M.)

.

30.5.13

Camilo Castelo Branco (Conhecia-lhe o leito)





O oratoriano Manuel Bernardes, como é notório, escreveu um livro edificante, muito piedoso, chamado Armas da Castidade.

O místico filho de S. Filipe Néri, com duas palavras sãs, de um realismo seráfico, cabalmente explicou a situação de outro José Dias a respeito de outra Marta, conhecia-lhe o leito, dizia ele.

É o mais que se pode dizer sem escandalizar ninguém.

Conhecia-lhe o leito.



- CAMILO CASTELO BRANCO, A Brasileira de Prazins, XIII.

.

Dulce Chacón (Construção do sonho)





LA CONSTRUCCIÓN DE UN SUEÑO



Siempre hay tiempo para un sueño.
Siempre es tiempo de dejarse llevar por una pasión
que nos arrastre hacia el deseo.
Siempre es posible encontrar
la fuerza necesaria para alzar el vuelo
y dirigirse hacia lo alto.
Y es allí, y solo allí, en la altura,
donde podemos desplegar nuestras alas
en toda su extensión.
Solo allí, en lo más alto de nosotros mismos,
en lo más profundo de nuestras inquietudes,
podremos separar los brazos, y volar.

Dulce Chacón



Há sempre tempo para um sonho.
É sempre tempo de deixar-se levar pela paixão
e arrastar para o desejo.
É possível sempre encontrar
a força para levantar voo
e dirigir-se para o alto.
E ali, nas alturas, só ali,
podemos soltar as asas
em toda a sua extensão.
Só ali, no mais alto de nós mesmos,
no mais fundo de nossa inquietude,
podemos abrir bem os braços, e voar.

(Trad. A.M.)

.

29.5.13

Fernando Pessoa / A. Campos (Tenho uma grande constipação)





Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.



Álvaro de Campos


.

28.5.13

Mirta Rosenberg (Consequência)





LA CONSECUENCIA



Esto es un árbol. La raíz dice raíz,
rama cada rama, y en la copa
está la sala de recibo
de un mirlo que habla.

La mesa donde escribo
-una fiesta de solteras-
está hecha de madera de ese árbol
convertida por el uso y por el tiempo
en la palabra mesa.

Es porque da frutos que caen
y por el gremio perenne de sus hojas
que se renueva el árbol
y que existe la palabra árbol:
aunque a veces el bosque
lo oculte a la vista, lo contiene
el árbol en la palabra árbol.

Y no es que éste sea un poema abstracto.
Es que las palabras se repiten entre sí
por el sentido: son solteras y sociables
y de sus raíces crece un árbol.


Mirta Rosenberg



Isto é uma árvore. A raiz diz raiz,
ramo cada ramo, e na copa
está a sala de recepção
de um melro que fala.

A mesa onde escrevo
– uma festa de solteiras –
é feita de madeira dessa árvore
convertida na palavra mesa
pelo uso e pelo tempo.

Por dar frutos que caem
e pelo grémio perene das folhas
é que a árvore se renova
e existe a palavra árvore:
embora o bosque às vezes
a esconda da vista, a árvore
está contida na palavra árvore.

E este nem é sequer um poema abstracto.
É que as palavras repetem-se pelo
seu sentido: são solteiras e sociáveis
e das suas raízes cresce uma árvore.


(Trad. A.M.)



>>  Poetry Int. (5p) / Lyricline (9p)

.

27.5.13

Ver (135)





(Coimbra)


[Maravilhas de Portugal]

.

Cristian Aliaga (Controlo remoto)





CONTROL REMOTO


No hay poemas posibles.
Hay que salir del poema
a respirar.
¿Acaso alguien
espera por ventura un poema?
Nadie que piense
nadie que entienda
como se entiende en cada siglo que muere
aguardará un poema nunca.
El que escribe sueña solamente;
su mente solitaria descabeza
palabras oscuras
mientras la TV repite
bellas series de la infancia
y películas coloreadas del ’40.

El que escribe sueña
y mira en la pantalla una guerra lejana.
¿Acaso alguien espera
por ventura
otra cosa
que el sillón oscuro
y el control remoto?

Cristian Aliaga



Não há poemas possíveis,
temos que sair do poema
a respirar.
Alguém acaso
espera porventura um poema?
Ninguém que pense
ninguém que entenda
como se entende em cada século
aguardará jamais um poema.
Quem escreve sonha somente,
a mente solitária descabeça
palavras obscuras,
enquanto a TV repete
belas séries infantis
e filmes a cores dos anos 40.

Quem escreve sonha
e olha no ecrã uma guerra distante.
Acaso alguém espera
porventura
outra coisa,
senão o sofá
e o controlo remoto?

(Trad. A.M.)

.

26.5.13

Eugénio de Andrade (A primeira neve)






A PRIMEIRA NEVE



E depois, tão antiga a neve.
Só o lume a podia trazer
da fundura dos dias
a esta casa. Brancura estendida
em páginas lidas
a outra luz, dentro do sono.
Quase sem peso, sem nenhum
ruído - vinda de outros céus,
outros caminhos.
A primeira neve. E tão antiga.


Eugénio de Andrade


[Silva]

.



25.5.13

Miguel d'Ors (Outro poema de amor)





OTRO POEMA DE AMOR



Qué dicha no ser Basho, en cuya voz
florecían tan leves los ciruelos,
ni ser Beethoven con su borrasca en la frente
ni Tomás Moro en el taller de Holbein.
Qué dicha no tener
un bungalow en Denver (Colorado)
ni estar mirando desde el Fitz Roy el silencio
mineral de la tarde patagónica
ni oler la bajamar de Saint-Malo

y estar aquí contigo, respirándote, viendo
la lámpara del techo reflejada en tus ojos.


Miguel d’Ors



Que sorte não ser Basho, em cuja voz
floriam tão leves as ameixieiras,
nem ser Beethoven com sua tormenta na testa
nem Thomas More na oficina de Holbein.
Que sorte não ter
um bungalow em Denver (Colorado)
nem estar no Fitz Roy contemplando o silêncio
mineral da tarde patagónica
nem cheirar a baixa-mar de Saint-Malo

e estar contigo aqui, respirando-te, a ver
a luz do tecto reflectida nos teus olhos.


(Trad. A.M.)

.

24.5.13

Camilo Castelo Branco (A origem da Patuleia)





O Zeferino das Lamelas, às primeiras comoções do vulcão popular, nos arredores de Guimarães, preparou- se; e assim que ouviu repicar a rebate em Ronfe, cheio de ciúmes como o sineiro de Notre Dame, agarrou-se à corda do sino, reuniu no adro os jornaleiros e vadios de três freguesias, e pegou a dar morras aos Cabrais com aplauso universal.

Depois, explicou o que era o cadastro, confundindo este expediente estatístico com "canastro": – que os Cabrais e os seus empregados andavam a tomar as terras a rol para empenharem Portugal à Inglaterra; que esses róis estavam nos cartórios das administrações e em casa dos regedores; que era preciso queimar as "papeletas" e matar os cabralistas.


- CAMILO CASTELO BRANCO, A Brasileira de Prazins, XIV.

.


Mario Benedetti (Testamento da quarta)





TESTAMENTO DE MIÉRCOLES



Aclaro que éste no es un testamento
de esos que se usan como colofón de vida
es un testamento mucho más sencillo
tan solo para el fin de la jornada

o sea que lego para mañana jueves
las preocupaciones que me legara el martes
levemente alteradas por dos digestiones
las usuales noticias del cono sur
y la nube de mosquitos casi vampiros

lego mis catorce estornudos del mediodía
una carta a mi mujer en la que falta la posdata
el final de una novela que a duras penas leo
las siete sonrisas de cinco muchachas
ya que hubo una que me brindó tres
y el ceño fruncido de un señor
que no conozco ni aspiro a conocer

lego un colorido ajedrez moscovita
una computadora japonesa sin pilas
y la buena radio en que está sonando
el español grisáceo de la bibicí
ah la olivetti y el cepillo de dientes
no los lego porsiacaso
lego tropos y metáforas de uso privado
que modestamente acuñe en la tarde
por ejemplo el astillero en que reparo mis sueños
el pájaro aleatorio que surge del crepúsculo
la cortina de lluvia que miro y no descorro
lego un remordimiento porque es aleccionante
y un poco de tristeza porque es inevitable
también mi soledad con la ilusión
de que el jueves resuelva no admitirla
y me sancione con presencias varias

lego los crujidos de mis viejas bisagras
también una tajada de mi sombra
no toda porque un hombre sin su sombra
no merece el respeto de la gente

lego el pescuezo recién lavado
como para un jueves de guillotina
una maceta con hierbabuena
y otra con un boniato que me hastía
ya que esta cargante convolvulácea
me está invadiendo el cuarto con sus hojas

lego los suburbios de una idea
un tríptico de espejos que me agrade
el mar allá al alcance de la mano
mis cóleras por orden alfabético
y un breve y curioso estado de ánimo
que todavía no se si es inocencia
o estupidez malsana
o alegría

sólo ahora lo advierto
en paredes y anaqueles y venas
en glándulas y techos y optimismos
me quedan tantas cosas por legar
que mejor las incluyo
en otro testamento
digamos el del viernes


Mario Benedetti



Aclaro que este não é um desses testamentos
que se usam como cólofon de vida
é um testamento muito mais simples
tão só para o fim da jornada

ou seja, lego para amanhã quinta
as preocupações que me deixou terça
ligeiramente alteradas por duas digestões
as notícias usuais do cone sul
e uma nuvem de mosquitos quase como vampiros

lego os catorze espirros do meio-dia
uma carta da minha mulher em que falta a pós-data
o fim de um livro que estou lendo a duras penas
os sete sorrisos de cinco cachopas
pois uma brindou-me com três
e o cenho franzido de um senhor
que não conheço nem desejo conhecer

lego um xadrez moscovita colorido
um computador japonês sem pilhas
e o rádio que está a dar
o espanhol cinzento da bibici
ah a olivetti e a escova de dentes
não lego por causa de coisas
lego tropos e metáforas de uso pessoal
que modestamente cunhei esta tarde
por exemplo o estaleiro em que reparo os meus sonhos
o pássaro aleatório do crepúsculo
e a cortina de chuva que tenho diante dos olhos
deixo um remorso porque é instrutivo
e um pouco de tristeza por ser inevitável
minha solidão também na esperança
de que a quinta resolva exclui-la
sancionando-me com presenças várias

lego o rangido das minhas velhas dobradiças
mais uma talhada da minha sombra
toda não porque um homem sem sombra
não merece o respeito do próximo

lego o pescoço recém-lavado
como que para uma quinta de guilhotina
um vaso de hortelã
e outro com certa planta que me incomoda
pois invade-me o quarto com as folhas

deixo os subúrbios de uma ideia
um tríptico de espelhos do meu gosto
o mar além ao alcance da mão
minhas raivas na ordem alfabética
e um breve e curioso estado de alma
que não sei ainda se é inocência
ou estupidez malsã
ou alegria

dou conta só agora
nas paredes e estantes e veias
nas glândulas e tectos e optimismos
fica ainda muita coisa por testar
pelo que será melhor metê-las
em outro testamento
digamos o de sexta-feira.


(Trad. A.M.)


.

23.5.13

Dana Gioia (A mulher do campo)





THE COUNTRY WIFE



She makes her way through the dark trees
Down to the lake to be alone.
Following their voices on the breeze,
She makes her way. Through the dark trees
The distant stars are all she sees.
They cannot light the way she's gone.
She makes her way through the dark trees
Down to the lake to be alone.

The night reflected on the lake,
The fire of stars changed into water.
She cannot see the winds that break
The night reflected on the lake
But knows they motion for her sake.
These are the choices they have brought her:
The night reflected on the lake,
The fire of stars changed into water.

DANA GIOIA
Daily Horoscope
(1986)




Aí vai ela por entre as árvores
a caminho do lago para ficar só,
aí vai ela a seguir-lhes as vozes
no vento. Por entre as árvores
o que ela vê são só estrelas,
mas não lhe alumiam o caminho.
Aí vai ela por entre as árvores
a caminho do lago para ficar só.

A noite reflecte-se no lago,
fazendo água o fogo das estrelas.
Não vê os ventos que partem
a noite espelhada no lago,
mas sabe que sopram por ela.
E é isto o que lhe oferecem,
a noite espelhada no lago,
o fogo das estrelas feito água.

(Trad. A.M.)

.

22.5.13

María Sanz (Moço fugaz)





MUCHACHO FUGAZ



Recuerdo que era invierno,
que los almeces iban cobijando
mi vuelta a casa, y que me seguía
un muchacho. Jamás supe quién era.
Así durante un rato. Los Jardines
entonaban la noche con el último
gorjeo de algún pájaro. Sentía
que unos ojos quemaban mi silueta
como el frío, que iban dibujándome
paso a paso. Volví la vista. Sólo
la oscuridad de los almeces, nadie
tras de mí... Pudo ser el mismo invierno,
su nombre masculino,
lo que me traspasara.

Un muchacho fugaz sigue alejándose,
cada vez que lo encuentro,
de mi noche.


MARÍA SANZ
Jardines de Murillo
(1989)




Recordo que era inverno,
e as árvores iam cobiçando
meu regresso a casa e um moço
me seguia. Nunca soube quem era.
Assim durante um bocado. Os Jardins
cantavam a noite com o último
gorjeio de um pássaro. Sentia
que uns olhos me queimavam o perfil
como o frio, que me iam desenhando
passo a passo. Voltei a vista. Só
a escuridão das árvores, ninguém mais
atrás de mim... Podia ser o próprio Inverno,
seu nome masculino,
a trespassar-me.

Um moço fugaz continua a afastar-se,
cada vez que o encontro,
da minha noite.


(Trad. A.M.)

.

21.5.13

Camilo Castelo Branco (Os padres do Minho)





Os padres do Minho, naquele tempo, não puxavam quase nada pelas memórias; ordenavam-se tão alheios às faculdades da alma que, sem memória nem entendimento, e às vezes sem vontade, eram sofríveis sacerdotes, davam poucas silabadas no Missal e liam os salmos do Breviário com uma grande incerteza do que queria dizer o penitente David.


- CAMILO CASTELO BRANCO, A Brasileira de Prazins, I.

.

Marcos Tramón (Fugacidades)





FUGACIDADES



Noite de estrelas;
em tua mão, minha mão.
O infinito.

*

Houve um tumulto
de vida em meu redor.
Há só silêncio.

*

Passam os anos,
meu coração desnudo
guarda grinaldas.

*

É só tristeza,
estranheza de ser,
melancolia.

*

Fecho os olhos,
a luz do mundo em sombra
reaparece.

*

Chega o outono;
cai uma folha, leve,
sobre teu rosto.

*

À média luz,
tu, caprichosa e livre,
como uma lembrança.

*

Somos matéria
corrupta, nada mais,
feitos de tempo.

*

São duas amigas,
a brincar nas rosas
daquele jardim.

*

Feliz, a lua;
estamos sós eu e tu
no segredo.

*

Teus caracóis, ontem,
o Gianicolo; eterno
amor a Roma.

*

Um poema é isto:
exercício carregado
de solidão.


MARCOS TRAMÓN
Desgana
Gijón (2010)

(Trad. A.M.)

.

20.5.13

Carlos Drummond de Andrade (Poesia)





POESIA



Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.


Carlos Drummond de Andrade

.

19.5.13

Olga Orozco (No fim era o verbo)





EN EL FINAL ERA EL VERBO



Como si fueran sombras de sombras que se alejan las palabras,
humaredas errantes exhaladas por la boca del viento,
así se me dispersan, se me pierden de vista contra las puertas del silencio.
Son menos que las últimas borras de un color, que un suspiro en la hierba;
fantasmas que ni siquiera se asemejan al reflejo que fueron.
Entonces ¿no habrá nada que se mantenga en su lugar,
nada que se confunda con su nombre desde la piel hasta los huesos?
Y yo que me cobijaba en las palabras como en los pliegues de la revelación
o que fundaba mundos de visiones sin fondo
para sustituir los jardines del edén sobre las piedras del vocablo.
¿Y no he intentado acaso pronunciar hacia atrás todos los alfabetos de la muerte?
¿No era ese tu triunfo en las tinieblas, poesía?
Cada palabra a imagen de otra luz, a semejanza de otro abismo,
cada una con su cortejo de constelaciones, con su nido de víboras,
pero dispuesta a tejer y a destejer desde su propio costado el universo
y a prescindir de mí hasta el último nudo.
Extensiones sin límites plegadas bajo el signo de un ala,
urdimbres como andrajos para dejar pasar el soplo alucinante de los dioses,
reversos donde el misterio se desnuda,
donde arroja uno a uno los sucesivos velos, los sucesivos nombres,
sin alcanzar jamás el corazón cerrado de la rosa.
Yo velaba incrustada en el ardiente hielo, en la hoguera escarchada,
traduciendo relámpagos, desenhebrando dinastías de voces,
bajo un código tan indescifrable como el de las estrellas o el de las hormigas.
Miraba las palabras al trasluz.
Veía desfilar sus oscuras progenies hasta el final del verbo.
Quería descubrir a Dios por transparencia.

Olga Orozco



Como se fossem sombras de sombras afastam-se as palavras,
fumaradas errantes saídas da boca do vento,
assim se me dispersam e se me perdem de vista
contra as portas do silêncio.
São menos que os restos de uma cor, que um suspiro na erva;
fantasmas que nem sequer se assemelham ao reflexo que foram.
Então, nada se manterá no seu lugar,
nada se confundirá com seu nome desde a pele até aos ossos?
E eu que cobiçava nas palavras como nas dobras da revelação
o que sustinha mundos de ilimitadas visões
para substituir os jardins do éden nas pedras do vocábulo.
E acaso não tentei pronunciar para trás
todos os alfabetos da morte?
Não era esse o teu triunfo nas trevas, poesia?
Cada palavra à imagem de outra luz, à semelhança de outro abismo,
cada uma com seu cortejo de constelações, com seu ninho de víboras,
mas disposta a tecer e a destecer o universo de si mesma,
prescindindo de mim até ao nó derradeiro.
Extensões sem limite dobradas sob o signo de uma asa,
telas como andrajos para coar o sopro alucinante dos deuses,
reversos onde se desnuda o mistério,
onde arroja um por um os véus e os nomes,
sem nunca atingir o coração fechado da rosa.
Eu velava mergulhada no gelo ardente, na fogueira do orvalho,
traduzindo relâmpagos, desfibrando dinastias de vozes,
com um código tão cifrado como o das estrelas ou das formigas.
Observava as palavras a contra-luz.
Via-lhes desfilar a descendência até ao fim do verbo.
Queria descobrir Deus à transparência.

(Trad. A.M.)



>>  A media voz (37p) / Poesi.as (50p)

.

18.5.13

Ver (134)







[Roteiro do Douro]


.


Luis Alberto de Cuenca (Mal de ausência)





MAL DE AUSENCIA



Desde que tú te fuiste, no sabes qué despacio
pasa el tiempo en Madrid. He visto una película
que ha terminado apenas hace un siglo. No sabes
qué lento corre el mundo sin ti, novia lejana.

Mis amigos me dicen que vuelva a ser el mismo,
que pudre el corazón tanta melancolía,
que tu ausencia no vale tanta ansiedad inútil,
que parezco un ejemplo de subliteratura.

Pero tú te has llevado mi paz en tu maleta,
los hilos del teléfono, la calle en la que vivo.
Tú has mandado a mi casa tropas ecologistas
a saquear mi alma contaminada y triste.

Y, para colmo, sigo soñando con gigantes
y contigo, desnuda, besándoles las manos.
Con dioses a caballo que destruyen Europa
y cautiva te guardan hasta que yo esté muerto.


Luis Alberto de Cuenca



Desde que te foste, não sabes quão devagar
passa o tempo em Madrid. Fui ver um filme
que acaba de terminar, há coisa de um século. Não sabes
que lento corre o mundo sem ti, noiva distante.

Amigos dizem-me para voltar a ser o mesmo,
que tanta melancolia apodrece o coração
e a tua ausência não vale tanta ansiedade inútil,
que eu pareço até um exemplo de sub-literatura.

Mas tu levaste a minha paz na tua mala,
os fios do telefone, a rua onde moro.
Mandaste-me a casa a brigada ecologista
saquear-me a alma contaminada e triste.

Para cúmulo, continuo a sonhar com gigantes
e contigo, despida, a beijar-lhes as mãos.
Com deuses a cavalo que destroem Europa
e cativa te guardam até eu morrer.

(Trad. A.M.)


> Outra versão: Canal de poesia (M.Rodrigues)

.

17.5.13

António José Forte (Ainda não)





AINDA NÃO



Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar

ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem

ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer

ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça

ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração


António José Forte

.



16.5.13

Karmelo C. Iribarren (A vê-las passar)





A VERLAS PASAR



Son las siete. El día es
lo de menos. Me he sentado
hace un rato a ver pasar
los coches y a fumar. Ahora
escribo estos versos. Mañana
Dios dirá. Y si no dice nada
-como es costumbre en él-
eso que nos ahorramos.

Karmelo C. Iribarren


[Desde las lindes del sur]



Sete horas. O dia é
o menos. Sentei-me
há bocado a ver passar
os carros e a fumar. Agora
escrevo estes versos. Amanhã
Deus dirá. E se não disser nada
– como é costume –
é quanto se poupa.

(Trad. A.M.)

.

15.5.13

Camilo Castelo Branco (A exposição do reitor)





Como a exposição do reitor saiu muito enfeitada de jóias sentimentais – detestável espécie arqueológica que ninguém tolera – farei quanto em mim couber por, uma a uma, ir mondando e refugando as flores de modo que as cenas dramáticas se exponham áridas, bravias como serro de montanha por onde lavrou incêndio, sem deixar bonina, sequer folhinha de giesta em que a aurora imperle uma lágrima.

A Aurora a chorar! de que tempo isto é!

Como a gente, sem querer, mostra numa ideia a sua certidão de idade e uma relíquia testemunhal da idade de pedra!

Oh! os bigodes tingem-se; mas as frases – madeixas do espírito – são refractárias ao rejuvenescimento dos vernizes.


- CAMILO CASTELO BRANCO, A Brasileira de Prazins (Introdução).

.

Josep M. Rodríguez (Símbolo)





SÍMBOLO



Los olivos expresan el dolor:
giran sobre sí mismos,
se retuercen,
igual que un ejercicio manierista.

Hay un olivo cerca de mi casa
y, aunque sé que el dolor es contagioso,
me gusta compartir su soledad.

En ocasiones,
parece sugerirme
el esfuerzo final de alguien que se está ahogando
y que alarga la mano
como creyendo en Dios.

Si cerrase los ojos
llegaría a escuchar su oscuro grito.

Pero no,
no hay más grito que el tiempo
que gotea desnudo a medianoche.

Árbol mudo,
¿por qué extiendes tus ramas hacia mí?
Envejece el silencio en tu interior
y no me queda mucho que decirte.

Hoy contemplo el olivo
y soy yo el símbolo.


Josep M. Rodríguez




A oliveira expressa a dor,
roda sobre si mesma,
retorce-se,
como num passe maneirista.

Há uma oliveira ao pé de minha casa
e, mesmo sabendo que a dor contagia,
gosto de lhe partilhar a solidão.

Às vezes,
parece sugerir
o esforço derradeiro de alguém a afogar-se
e estende a mão
como que crendo em Deus.

Se eu fechasse os olhos,
até conseguiria ouvir o seu grito submisso.

Mas não,
não há mais grito que o tempo
gotejando desnudo a meio da noite.

Árvore muda,
porque estendes teus ramos para mim?
O silêncio envelhece dentro de ti
e não me resta muito que te dizer.

Hoje eu contemplo a oliveira
e sou eu o símbolo.


(Trad. A.M.)

.

14.5.13

António Gregório (Carpintaria)





CARPINTARIA



Sobretudo tive pena de quem lhe fez
o caixão porque a morte creio é cheia de horas
mortas e o meu avô carpinteiro igual a
ele irá perscrutar cada pormenor da
obra do seu caríssimo colega. Já
o vejo desdenhoso abanando a cabeça
descarnada aos primeiros sinais de cedência
prematura da madeira à pressão da terra.

António Gregório


[Hospedaria Camões]


.

13.5.13

Horacio Castillo (Culto)





CULTO


Cada vez que llega ante la sepultura
besa la cruz, mueve desconsolada
la cabeza de un lado al otro
y se pone a ordenar silenciosamente las flores.
Va y viene a la canilla cercana,
cambia el agua del cántaro,
y cuida que las hormigas no avancen
sobre la tierra todavía removida.
Luego recoge lentamente sus cosas,
besa de nuevo hasta mañana la piedra,
y regresa por la soleada avenida
donde siempre canta uno de esos pájaros
que cantan en los cementerios.

Horacio Castillo



Cada vez que chega ao pé da sepultura
beija a cruz, abana a cabeça
dseconsolada de um lado para outro
e põe-se a compor as flores em silêncio.
Vai e vem à torneira mais próxima,
muda a água do vaso
e cuida de que as formigas não avancem
sobre a terra ainda remexida.
Depois apanha as suas coisas lentamente,
volta a beijar a pedra até amanhã
e regressa pela avenida ensolarada
onde canta sempre um pássaro
desses que cantam nos cemitérios.

(Trad. A.M.)



>>  Poesia La Plata (11p) / Abacq (7p /Cuadernos orquestados) /Wikipedia

.

12.5.13

Ver (133)






Corvo>Açores



[Maravilhas de Portugal]

.

Pedro Casariego (Biografia)





BIOGRAFÍA


si
   alguna
            vez
                  muero
quiero azaleas encima de mí
quiero una ausencia de cruces
azaleas encima de mí

si
   alguna
            vez
                 vivo
quiero azaleas para mis brazos
quiero agua para las flores
estrellas encima de mí

Pedro Casariego



se eu
       morrer
                algum
                         dia
cobri-me de azáleas
nada de cruzes
só azáleas por cima

se eu
       viver
              algum
                        dia
enchei-me os braços de azáleas
mais água para as flores
e estrelas por cima

(Trad. A.M.)

.

11.5.13

Amadeu Baptista (Mil novecentos setenta e quatro)





MIL NOVECENTOS E SETENTA E QUATRO



Cai o silêncio sobre o alinhamento
hostil das casernas.

A guerra está no fim,
já só alguns de nós irão morrer.

No torpor absurdo da paz da parada,
há uma bala tracejante que passa,
um trovão.

Matou-se o mancebo da 2ª. companhia
que recusava a farda.

O crânio estilhaçado,
impossível de ver,
está ali, bem à nossa frente.

Noite, mais noite, é todo o dia assim.

O arame farpado que nos limita
a escolha
chora pequenas lágrimas perfiladas no fio
da nossa inocência ofendida.


Amadeu Baptista


[Amadeu Baptista]

.

10.5.13

José Luis García Martín (O passageiro)





EL PASAJERO



A veces, raras veces, siento la fatiga
de una travesía demasiado larga.
Se me cierran los ojos, llego a puerto.
¡Tantos queridos rostros me sonríen!
Es de nuevo la casa de la infancia,
el patio, el río, mi madre que me llama,
el verano en París, el cuarto diminuto
donde por primera vez no estuve solo
y luego, por primera vez, estuve solo.
Cierro los ojos. En la sombra el mundo
y a una nueva luz todas las cosas
que alguna vez amé, que tuve y que perdí.
Todas me esperan al final de todo.
Están muy cerca ya. ¿No se divisa
la tierra firme tras de aquellas nubes?
Miro la lenta estela de mi vida,
incesante se borra frente a mí.
El pasado, el futuro, espuma blanca,
monótona escritura que no acierto
a descifrar. Sueño en llegar a casa,
en acabar un viaje demasiado largo,
sin ilusiones ya, con agua apenas.
Estoy listo, adiós, adiós, la maleta
rebosa de impaciencia y de regalos.
Sueño en los rostros que me aguardan
–¡otra vez juntos tras de tanto tiempo!–
allá, en el puerto, bajo la tierra leve.


JOSÉ LUIS GARCIA MARTIN
Mudanza
(2004)


[Las afinidades electivas]




Às vezes, raras vezes, sinto a fadiga
duma travessia demasiado longa.
Cerram-se-me os olhos, aporto.
Tantos rostos queridos me sorriem!
É de novo a casa da infância,
o pátio, o rio, minha mãe que me chama,
o Verão em Paris, o quarto diminuto
onde pela primeira vez não estive só
e depois, pela vez primeira, estive só.
Fecho os olhos. O mundo em sombra
e a uma luz nova todas as coisas
que algum dia amei, que tive e que perdi.
Todas me esperam no final de tudo.
Estão muito perto já. Não se divisa
a terra firme atrás daquelas nuvens?
Contemplo a lenta esteira da minha vida,
apaga-se incessante frente a mim.
O passado, o futuro, espuma branca,
monótona escrita que não atino
a decifrar. Sonho com chegar a casa,
acabar uma viagem demasiado longa,
sem ilusões já, com água apenas.
Estou pronto, adeus, adeus, a mala
transborda de impaciência e de presentes.
Sonho com os rostos que me aguardam
- de novo juntos depois de tanto tempo -
além, no porto, debaixo da terra leve.


(Trad. A.M.)

.

9.5.13

Camilo Castelo Branco (Moléstias da velhice)






Entre as diversas moléstias significativas da minha velhice, o amor aos livros antigos – a mais dispendiosa – leva-me o dinheiro que me sobra da botica, onde os outros achaques me obrigam a fazer grandes orgias de pílulas e tisanas.

E quando cuido que me curo com as drogas e me ilustro com os arcaísmos, arruino o estômago e enferrujo o cérebro numa caturrice académica.

Constou-me aqui há dias que a Sr.ª Joaquina de Vilalva tinha um gigo de livros velhos entre duas pipas na adega, e que as pipas, em vez de malhais de pau, assentavam sobre missais.

O meu informador denomina missais todos os livros grandes; aos pequenos chama cartilhas.

Mandei perguntar à Sr.ª Joaquina se dava licença que eu visse os livros.

Não só mos deixou ver, mas até mos deu todos – que escolhesse, que levasse.



- CAMILO CASTELO BRANCO, A Brasileira de Prazins (Introdução).

.

Dulce Chacón (Depois do acidente)





DESPUES DEL ACCIDENTE



Despierta, amor,
¿qué es esa palidez?

Nunca has dormido así.

Despierta,
dormir es un incómodo letargo,
es un caparazón sin prisa
— y hacia dentro —
y crea hábito de lugar,
inmóvil.
Muda es la prisión
... y ayer me dijiste
hasta mañana.

¿Por qué tienes
afilada la nariz?

Despierta, no insistas
en esa quietud.

Abrázame otra vez.


Dulce Chacón



Desperta, amor,
que palidez é essa?

Nunca tu dormiste assim.

Desperta,
dormir é um letargo incómodo,
é uma carapaça sem pressa
- e para dentro –
e cria hábito de lugar,
imóvel.
Muda é a prisão
... e inda ontem me disseste
até amanhã.

Porque é que tens
o nariz aguçado?

Desperta, não insistas
nessa quietude.

Abraça-me outra vez.


(Trad. A.M.)



>>  Poemas del alma (5p) / Poemario de mujeres (5p) / Pendiente de migración (entrevista-2002) / Wikipedia

.

8.5.13

Alexandre O'Neill (Seis poemas confiados/I)





SEIS POEMAS CONFIADOS À MEMÓRIA DE NORA MITRANI*


(I)

Para ti o tempo já não urge,
Amiga.
Agora és morta.
(Suicida?)

Já Pierrot-vomitando-fogo
(sempre ao serviço dos amantes)
não entra no nosso jogo
como dantes.

Mas esse obscuro servidor,
que promovemos uma vez
(ainda eu não te dedicara
‘aquele’ adeus português…),

corre, lesto, como uma chama,
entre nós dois (o saltarim!)
e desafia-nos prà cama.
Esperas por mim?

(...)


Alexandre O’Neill, Poemas com Endereço [1962],
in Poesias Completas, Lisboa, Assírio & Alvim, 6.ª ed.,
revista por Luis Manuel Gaspar, 2012

_________________

(*) Destinatária, como é sabido e confessado na estrofe terceira, de Um adeus português.

.


7.5.13

José Emilio Pacheco (Desperdício)





EL DERROCHE



Mientras espero a la que llega tarde,
ahora y siempre, observo
la multitud.
Y no me pongo sociológico,
apocalíptico ni estético.

Hoy me limito a ver los rostros de todos.
Pienso en el desmedido gasto superfluo,
las horas-hombre (o las horas-Dios, según la creencia)
desperdiciadas en dar a cada cual unos rasgos
que jamás se duplican.

Hay - dijo Bioy - un verdadero derroche de caras.


José Emilio Pacheco



Enquanto espero aquela que chega tarde,
agora e sempre, observo
a multidão.
E não me faço apocalíptico
sociológico nem estético.

Hoje limito-me a ver os rostos de todos.
Penso no desmedido gasto supérfluo,
as horas-homem (ou horas-Deus, conforme a crença)
desperdiçadas em dar a cada um alguns traços
que jamais se duplicam.

Há - diz Bioy – um verdadeiro desperdício de caras.


(Trad. A.M.)

.

6.5.13

Alberto de Lacerda (A caminhada mais longa)





A caminhada mais longa
É a despedida
Muito breve que seja

A caminhada mais longa
É a despedida

Partiste

Ficou tudo
Por dizer

Quase tudo

Partiste

Como é possível
Interromper
A eternidade?


Alberto de Lacerda

.



Jorge Riechmann (Elogio dos comboios)





ALABANZA DE LOS TRENES VERDADEROS



Hay muchos trenes falsos.
Es fácil confundirlos con los trenes auténticos.
Casi todos
los llaman también trenes:
los revisores
los ferroviarios
los carteristas
los viajeros casi sin excepción
y hasta yo mismo
cuando no quiero dar muchas explicaciones.

Trenes solo son los que parten de noche.
Trenes solo son los que llevan a ti.

Jorge Riechmann

[Apología de la luz]



Há muitos comboios falsos.
E é fácil confundi-los com autênticos.
Toda a gente
os chama comboios também,
os revisores
os ferroviários
os carteiristas
os passageiros quase todos
e até eu mesmo
quando quero poupar-me
a mais explicações.

Comboios são só os que partem de noite.
Comboios são só os que levam a ti.

(Trad. A.M.)

.


5.5.13

Albano Martins (Quase marinha)





QUASE MARINHA



Desta luz, mais branca
do que o branco - ou
do que o leite, como diria Safo -
o que pode dizer-se
é isto: um dia
o céu
acordou sem nuvens e a linha
do horizonte, de tão fresca
e tão nítida
e tão próxima, era o parapeito
onde a infância vivia
debruçada. E era
ali que o voo
das gaivotas começava.


Albano Martins

.

4.5.13

Cristian Aliaga (Os sofistas)





LOS SOFISTAS



La sinfónica nada:
ensayos leves sobre la idea del placer.
Datos del texto en las estrías de la arena,
la "mano de dios" apoyada
sobre este futuro.
Poetas, alienados, dictadores,
antiguos amigos con sus botellas,
jamás dejan de reír su pena
en ocasión de la penumbra.
Los sofistas sabían
que la verdad era una cuestión de poder,
no de filosofía.

Cristian Aliaga



O nada sinfónico,
ensaios ligeiros sobre a ideia de prazer.
Dados do texto nas estrias da areia,
a “mão de deus” apoiada
sobre este futuro.
Poetas, alienados, ditadores,
amigos antigos com suas garrafas,
não deixam nunca de rir suas penas
em maré de penumbra.
Os sofistas sabiam
que a verdade era uma questão de poder,
nanja de filosofia.

(Trad. A.M.)



>>  Cristian Aliaga (sítio of.) / Bariloche2000 (26p)

.

3.5.13

Ver (132)







[Roteiro do Douro]


.

Jorge M. Molinero (Morram as velhas)





QUE SE MUERAN LAS VIEJAS



Que se mueran las viejas que meriendan
churros en la chocolatería El Castillo,
que mueran las momias enjoyadas con
las mejillas pintadas de un chillón más vivo que ellas,
que las palmen y

sus nietas hereden las perlas y las cuentas
corrientes y se compren vestidos de pasarela y
lencería fina y se vayan de viaje a Roma y a Mikonos
y a Ibiza y se compren un Mini negro con rayas blancas
y llenen sus armarios de zapatos y de bolsos y contraten
un personal trainer y adopten un perro lamecoños y
se operen las tetas y se hagan liposucciones

y

cansadas,
regresen a esta ciudad en la que quema el asfalto, hay sitio donde
aparcar en las tardes inertes de agosto y

busquen a los poetas pobres - pobres poetas -
que no se pueden ir de vacaciones a la playa,
que les exijan catorce metáforas de media
para llenar el vacío del alma.
Empezaremos con la postura de la abeja,
susurrando versos robados a Pedro Andreu.

Jorge M. Molinero


[La juventud del otro]




Morram as velhas que comem
churros na chocolataria El Castillo,
morram as múmias cheias de jóias
de faces pintadas duma cor bem mais viva que elas,
que lhes batam e

as netas lhes herdem as pérolas
e as contas correntes e comprem vestidos de passarela e
lenços finos e vão em viagem a Roma e Mikonos
e Ibiza e comprem um Mini preto com riscas brancas
e encham os armários de sapatos e carteiras e contratem
um personal trainer e adoptem um cachorro lambe-cricas e
se operem às mamas e façam lipo-aspiração

e

cansadas,
regressem a esta cidade onde o asfalto queima, onde há sítio
para aparcar nas tardes inertes de Agosto e

procurem os poetas pobres – pobres poetas –
que não podem ir de férias para a praia,
que lhes exijam catorze metáforas em média
para preencher o vazio da alma.
Começaremos com a postura da abelha,
sussurando versos roubados a Pedro Andreu.

(Trad. A.M.)

.

2.5.13

Paul Éluard (Um só sorriso)





UN SEUL SOURIRE



Un seul sourire disputait
Chaque étoile à la nuit montante
Un seul sourire pour nous deux

Et l'azur en tes yeux ravis
Contre la masse de la nuit
Trouvait sa flamme dans mes yeux

J'ai vu par besoin de savoir
La haute nuit créer le jour
Sans que nous changions d'apparence.

Paul Éluard



Um só sorriso disputava
Cada estrela à noite crescente
Um só sorriso para nós dois

E o azul nos teus olhos encantados
Contra o fundo escuro da noite
Cruzava a chama nos olhos meus

Eu vi por questão de saber
A noite profunda criar o dia
Sem nós sequer mudarmos de aspecto

(Trad. A.M.)



> Outra versão: Luz & sombra (M.G.Llansol)

.

1.5.13

Jorge Espina (Amo-te)





Te amo con la torpeza y la insistencia
Del niño que aprende a silbar


Jorge Espina




Amo-te
com a insistência
e a falta de jeito
de um puto
a aprender a assobiar.

(Trad. A.M.)

.