16.4.13

Rogelio Ramos Signes (O pião)





EL TROMPO



Cuando jugaba a los trompos con mi padre
siempre me ganaba.
Yo ponía todo mi empeño
pero era muy corto de vista, y él
siempre me ganaba.
Mi trompo giraba plácidamente en la mano de mi padre
y su trompo se escapaba por entre mis dedos.
Yo ponía todo mi empeño pero quien ganaba era él.
Y reía, no burlándose
reía como a la espera de algo que no llegaba,
una explicación,
una deducción
que estaba al alcance de mis ojos
pero yo era muy corto de vista.
"Hay que mirar detenidamente"
me decía.
"Hay que mirar y sacar conclusiones"
mientras mi trompo bailaba en la palma de su mano
y él reía con sus dientes chiquitos
gastados de tanto masticar, supongo
y también por el tiempo.
Un día
tras una inolvidable clase de Física en el colegio
volví a casa y le pedí que enrollara el trompo.
Hacía casi diez años que no jugábamos a eso
y mi padre me miró de una manera difícil de describir,
con cariño,
con satisfacción,
pero más que todo con alivio,
como diciendo "Ha llegado el momento".
Mi padre era zurdo
(siempre lo supe, pero no deduje)
y enrollaba en sentido contrario a las agujas del reloj,
por eso el trompo que él preparaba
se escapaba de mi mano torpemente diestra,
y no de la suya, astutamente siniestra.
La infancia es un despiadado campo de aprendizaje
donde las clases prácticas
se dictan fuera de horario.

Rogelio Ramos Signes



Quando eu jogava ao pião com meu pai
ele ganhava-me sempre.
Eu bem me empenhava,
mas era curto de vista e ele sempre levava a melhor.
O meu pião dormia a girar na mão de meu pai,
mas o dele fugia-me sempre por entre os dedos.
Eu bem me empenhava, mas quem ganhava era ele.
E então ria, sem troça,
como se estivesse à espera de algo para chegar,
uma explicação, uma dedução
que me estaria ao alcance dos olhos,
mas eu era muito curto de vista.
“Tens de olhar atentamente”- dizia-me -
“Tens de olhar e tirar conclusões”
enquanto o meu pião lhe dançava na palma da mão,
e ele ria com os dentes pequeninos,
gastos de tanto mastigar, suponho,
e do tempo também.
Um dia,
depois duma aula inesquecível de Física no colégio,
tornei para casa e disse-lhe que enrolasse o pião.
Não jogávamos há quase dez anos
e o meu pai olhou para mim dum modo
difícil de descrever, com ternura,
com satisfação,
mas acima de tudo com alívio,
como que dizendo “Chegou a hora”.
Meu pai era surdo
(eu sempre o soube, mas não liguei)
e enrolava ao contrário dos ponteiros do relógio,
por isso o pião que ele lançava
fugia-me da mão canhestramente dextra,
mas não fugia da sua, astutamente sinistra.
A infância é um terrível campo
de aprendizagem, mas as aulas práticas
são sempre fora do horário.

(Trad. A.M.)

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