16.3.13

João Araújo Correia (O Tio António Chapeleiro)





O Tio António Chapeleiro – assim chamado porque a sogra, falecida havia muitos anos, fabricava de sua mão chapéus de palha centeia e os vendia nas feiras – era um velhote rijo e conservado como trave de castanho cortada em boa lua.

Quando lha gabavam a fortaleza de espantar em idade tão provecta – ia nos oitenta – sorria-se e afirmava todo ancho, batendo no peito sonoro: isto é um pote de ferro!

Sempre muito lavado, contra o costume da terra, sempre muito alegre, não obstante o padecer das cruzes, com o asseio e o riso acicatava a língua trocista dos vizinhos imundos e sorumbáticos, pois diziam dele: Este diabo é uma rosa-de-jericó!

Não no amavam, porque era limpo, nunca deixou crescer as barbas além de uma semana e também porque vivia demais consigo, a ponto de nunca entrar numa taberna.

Defeitos graves...

Tirante a missa aos domingos, passava o tempo numa propriedade arredia do povo – um migalho, que conseguira comprar à custa de economias.



- JOÃO DE ARAÚJO CORREIA, Contos Bárbaros / Os figos de pau (1939).

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