24.11.12

João Araújo Correia (A minha etnografia)





Numa das lojas subjacentes à moradia, andavam aos chichelões duas memórias do tempo das meadas – uma dobadoira e um sarilho.

Tinham pertencido à minha avó paterna, muito amiga de bragais de linho.

Deixou, em baús de coiro, lençóis que sempre me lembram o melhor soneto de Camilo Pessanha.

Mulher asseada...

No armazém, que dava para um eido e um pequeno jardim, havia pipas assentes em malhais de pinho ou castanho, uma corrente de ferro para lavar as pipas, uma chave de bronze para abrir ao vinho, uma selha para se não perder nem uma gota, uma balsa para encuba ou trasfega, cálices de prova e um jogo de letras, abertas em zinco, para marcar os cascos.

Se mais havia, não me lembra agora.

Só se for um argau de folha e uma boa verruma para tirar amostras.


- JOÃO DE ARAÚJO CORREIA, Pontos Finais (A minha etnografia).




>>  Wikipedia / Grémio (perfil bio) / aPágina (perfil crítico / Serafim Ferreira)

Aquilino Ribeiro, Homenagem nacional (Sociedade Portuguesa de Escritores), 1960:

- Não é o mestre da Régua, como se dizia da pintura, no obscuro século de Quinhentos, o mestre de Ferreirim ou de Linhares. Mas o mestre de nós todos, que andamos há cinquenta anos a lavrar nesta ingrata e improba seara branca do papel almaço...

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