8.1.12

Pablo Neruda (O tigre)






O TIGRE




Sou o tigre.
Espio-te entre as folhas
largas como lingotes
de mineral molhado.


O rio branco cresce
sob a névoa. Chegas.


Nua, mergulhas.
Espero.


Então, num salto
de fogo, sangue, dentes,
com uma pancada derrubo
teu peito, tuas ancas.


Bebo teu sangue, despedaço-te
os membros um a um.


E fico a velar
durante anos, na selva,
teus ossos, tua cinza,
imóvel, longe
do ódio e da cólera,
desarmado em tua morte,
enredado nos cipós,
imóvel à chuva,
sentinela implacável
do meu amor assassino.



Pablo Neruda


(Trad. Albano Martins)

.