6.10.11

Marcos Tramón (Os passos da luz)






OS PASSOS DA LUZ

             (Riverside Park)


Os pássaros ao amanhecer
- seus trinados regulares, concentrando
a inaugurada luz da manhã
em claros intervalos de silêncio.
A moça loira, como de capa,
a ler, no seu canto, doravante,
para sempre, passando folhas e dias.
No vaivém do metro,
o tranquilo repouso do amor:
dormitam, e ele debulha os caracóis
dela, encolhida no seu regaço.
Os furiosos esforços da luz
para alcançar os cantos da sombra.
Moços e moças estendidos
junto à fonte, sumindo-se no tempo
sob a luz inclinada da tarde.
É quase a eternidade que se encontra aqui.
Cheguei ao repouso opulento destes bancos
onde a vida não parece passar,
e alguém observa a passagem
de belos rostos de mulheres que escapam,
irremediavelmente.
Esforça-te por reter tanta beleza
contra a luz, intacta;
esforça-te por reter tudo,
como se não estivesse tudo perdido de antemão.


MARCOS TRAMÓN
Desgana
Gijón (2010)

(Trad. A.M.)

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