11.12.10

Jaime Gil de Biedma (Idílio no café)





IDÍLIO NO CAFÉ




A mim pergunto se durante a vida inteira
estivemos aqui. Ponho, agora mesmo,
a mão diante dos olhos – que lateja
de sangue em minhas pálpebras – e os pêlos
imensos confundem-se, em silêncio,
com o olhar. Pesam as pestanas.


Não sei bem do que falo. Quem são,
rostos vagos a nadar como numa água pálida,
estes aqui sentados, viventes connosco?
A tarde empurra-nos para certos bares
ou entre cansados homens em pijama.


Vem. Vamos lá para fora. A noite. Há espaço
em cima, mais em cima, muito mais do que as luzes
que às rajadas iluminam teus olhos dilatados.
Entre nós também silêncio fica,
silêncio
           e este beijo como um longo túnel.



Jaime Gil de Biedma

(Trad. José Bento)

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