30.11.10

José Rentes de Carvalho (A menina Alice, do vestiário)






A Alice sorriu surpreendida, mas explicou que éramos tantos a dar-lhe chocolates e rebuçados que também já tinha dito aos outros que dali em diante preferia dinheiro.

O meu gesto, contudo, não tinha sido em vão, porque além de me beijar nos lábios – a primeira vez – sentou-se na cadeira atrás da máquina de costura, facilitando os meus manejos ao diminuir a diferença das nossas alturas.

Depois retomou o crochet, enquanto os meus dedos lhe percorriam o corpo com a sofreguidão que dá o pressentimento das grandes descobertas.

A certa altura abanou a cabeça a proibir, noutra pediu baixinho que não lhe fizesse cócegas.

Repentinamente deixou cair as agulhas e apertou-me contra si, colando a sua boca à minha noutro beijo, esse tão longo que me deixou sem ar.



- J. RENTES DE CARVALHO, Ernestina, Ed. Escritor, Lx. 2001, p. 221.

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