15.11.10

Carlos Marzal (Credo quia absurdum)






CREDO QUIA ABSURDUM




Se não desse vertigens a fundura,
se à alma aventureira não infundisse
um frio sideral,
se não nos debitasse
os insólitos dracmas dos sonhos,
se não negasse nosso nome,
não haveria para quê
nem para tanto.


Esta infracção ao bom-senso
este imprudente amor desventurado
são nossa glória.


Se não houvesse perder, não haveria triunfo.
Toda a paixão se impõe com sua chama,
qualquer enfermidade dá em íntima.


Alteza incompreensível,
é escura tua púrpura.
Não chegámos aqui para entender-te.


Bailo sobre brasas, porque é triste.
Porque é tarde e ocaso, estou de parabéns.
Deixei-me fugir de mim por não haver fundo.
Por ser inútil, canto.
Por ser absurdo, creio.





(Trad. A.M.)