5.9.10

Lawrence Durrell (A paisagem e o desejo)






Agora, nesta tenebrosa península em forma de folha de plátano, como os dedos da mão abertos (onde a chuva de Inverno crepita como palha sobre rochedos), caminho envolvido pela capa rígida da ventania, num horizonte sufocado por esponjas gementes: procuro o sentido do conjunto.

Como poeta da consciência histórica, creio ser obrigado a considerar a paisagem como um campo submetido ao desejo humano, torturado em aldeias e lugarejos, rasgado em cidades.

Uma paisagem coberta de sinais, assinada pelos homens e pelo tempo.

Agora começo, contudo, a crer que o desejo é herdado da paisagem; que o homem depende, no que respeita a este acessório que é a vontade, da sua situação num lugar; que não passa de um locatário de terras férteis ou de florestas malsãs.

O que vejo não é (como outrora pensava) o impacto da sua vontade sobre a natureza, mas a irresistível pressão que acaba por impregná-lo das doutrinas não especificadas e cegas da natureza, dos seus humores e dos seus tormentos.



- LAWRENCE DURREL, Justine (2.ª parte), trad. Daniel Gonçalves.

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