4.6.10

Manuel Alegre (Trova do amor lusíada)






TROVA DO AMOR LUSÍADA





Meu amor é marinheiro
quando suas mãos me despem
é como se o vento abrisse
as janelas do meu corpo.


Quando seus dedos me tocam
é como se no meu sangue
nadassem todos os peixes
que nadam no mar salgado.


Meu amor é marinheiro.
Quando chega à minha beira
acende um cravo na boca
e canta desta maneira:


- Eu sou livre como as aves
e passo a vida a cantar
coração que nasceu livre
não se pode acorrentar.


Trago um navio nas veias
eu nasci para marinheiro
quem quiser pôr-me cadeias
há-de matar-me primeiro.


Meu amor é marinheiro
e mora no alto mar
seus braços são como o vento
ninguém os pode amarrar.


Quando chega à minha beira
todo o meu sangue é um rio
onde o meu amor aporta
seu coração - um navio.


Meu amor disse que eu tinha
uns olhos como gaivotas
e uma boca onde começa
o mar de todas as rotas.


Meu amor disse que eu tinha
na boca um gosto a saudade
e uns cabelos onde nascem
os ventos e a liberdade.
   (…)


Manuel Alegre










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