23.11.08

Vitorino Nemésio (As cidades dos Açores)





(As cidades dos Açores…)




As cidades dos Açores não foram urbes traçadas a rego de arado, nem empórios crescidos em embocaduras de rios férteis, nem aglomerados feitos em arraiais de feiras ou em grandes nós de comunicações terrestres naturais.

De nove ilhas que conta o arquipélago só duas tiveram durante quatro séculos o timbre de cidade: a Terceira e S. Miguel.

Angra e Ponta Delgada cresceram primeiro como fixadores das populações dotadas de maior área insular, e logo como chaves de situações geográficas mais acessíveis e demandadas.

Das ilhas maiores só uma - o Pico - não chegou a atingir densidade citadina.

O seu dispositivo montanhoso maciço (inútil farol de noite lhe chamou Chateaubriand), a porosidade do seu solo pouco propício à agricultura e impróprio para a pastorícia de prados especializaram-na na pesca, no vinho e nas frutas - três géneros que, por si sós, dificilmente geram mesteirais e mercadores, ou seja, o húmus dessa coisa febril e às vezes monstruosa que se chama uma cidade.



- VITORINO NEMÉSIO, Corsário das Ilhas, Primeiro corso (Corisco), 1956.

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