11.7.08

Clarice Lispector (Dá-me a tua mão)







DÁ-ME A TUA MÃO




Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.


De como entrei naquilo que existe
entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.


Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia
por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
— nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.



Clarice Lispector




Fontes: Sítio oficial (tudo+algo) / Klick Escritores (bio+biblio+antologia) / Casa do Bruxo (25p) / Jornal de Poesia (9p+bio) / Releituras (bio+biblio+prosas) / Vidas Lusófonas (perfil) / Jornal de Poesia: mostra que o que passa por 'poesia' de C.L., na verdade, é 'prosa' da mesma, intervencionada por terceiros




Antes, aqui: Mas há a vida

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