27.9.07

Luis Alberto de Cuenca (Bebe-a)





BÉBETELA



Dile cosas bonitas a tu novia:
«Tienes un cuerpo de reloj de arena
y un alma de película de Hawks».
Díselo muy bajito, con tus labios
pegados a su oreja, sin que nadie
pueda escuchar lo que le estás diciendo
(a saber, que sus piernas son cohetes
dirigidos al centro de la tierra,
o que sus senos son la madriguera
de un cangrejo de mar, o que su espalda
es plata viva). Y cuando se lo crea
y comience a licuarse entre tus brazos,
no dudes ni un segundo:
bébetela.


Luis Alberto de Cuenca






Diz coisas lindas à tua amada:
“O teu corpo é como uma ampulheta
e a alma um filme de Hawks”.
Diz-lho baixinho, chegando-lhe os lábios
ao ouvido, sem que ninguém
possa ouvir o que lhe dizes
(a saber, que suas pernas são foguetes
dirigidos ao centro da terra,
ou que os seios são a morada
de um caranguejo marinho, ou que
as costas são como prata viva).
E quando ela acreditar
e começar a derreter-se nos teus braços,
não hesites nem um segundo:
bebe-a.


(Trad. A.M.)




Fontes: A-media-voz (bio+43p) / Instituto Cervantes (autor+textos+videoteca) / Poesia-inter (foto+32p)

Um verso (38)












Um verso de Mário Quintana
(perfilar, Porto Alegre):











Quem faz um poema abre uma janela


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25.9.07

Miguel Torga (Sol engarrafado)





Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca, erguem-se os muros do milagre.

Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas.

No Setembro, os homens deixam as eiras da Terra-Fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto.

Cantam, dançam e trabalham.

Depois sobem.

E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo.




- MIGUEL TORGA, Portugal (Um Reino Maravilhoso. Trás-os-Montes).


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