10.5.07

Eugénio de Andrade (As palavras)





AS PALAVRAS




São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.


Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.


Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



EUGÉNIO DE ANDRADE
Coração do Dia (1958)
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Fontes: As Tormentas (68p) / Porto de Abrigo (27p) / IPLB (nota+bio-biblio+excertos, etc.) / Instituto Camões (nota Carlos Mendes Sousa) / Lídia Aparício (19p) / Lugar das Palavras (30p) / Um buraco na sombra (23p) / nEscritas (homenagem) / Fundação Eugénio A. (tudo+algo)
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